Havia que renovar a Universidade de Coimbra que, entendiam, estaria sufocada pelo emaranhado das ruelas da Alta. Havia mas o reitor e outras figuras proeminentes da Universidade não se entendiam no que deveria ser a nova "cidade universitária".
“Salazar veio terminar com as hesitações
em 1937: "[...] Isolar a colina sagrada, só activa para o estudo na
doce e calma atmosfera coimbrã”, António Oliveira Salazar, Discursos e Notas
Políticas, vol. II (1935-1937) (Coimbra: Coimbra Editora, 1945).
Imagino
quanto lhe terá custado essa decisão, a ele, que ali fora estudante, lente e onde,
intelectual católico conservador que reanimara o CADC e congeminara o Estado
corporativo, cujo objectivo era fazer com que os portugueses continuassem a
viver “habitualmente”. Arrasar uma cidade com séculos de História e história sua
também para, sobre as ruínas, fazer erguer imponentes edifícios, brancos e
frios que ele próprio viria a classificar como parecendo “fábricas de bolachas”,
seria ficar na história como o algoz da Alma Mater coimbrã na vã tentativa de a
actualizar - maldição suprema; teria sido insuportável. “Se soubésseis quanto
custa mandar, gostaríeis de sempre obedecer” mas
ele arcou com a responsabilidade.
Os
habitantes comuns não tinham sido consultados, nem doutores nem futricas. Não
foi por desprezo mas por não os considerar aptos a tal tarefa. Aliás, se “A soberania
reside em a nação” e sendo a nação uma “comunidade com uma
identidade coletiva imaginada” com “características partilhadas, como língua,
história, etnia, cultura, território ou religião”, a opinião da população
actual sobre este tema não seria relevante, tanto por ser ultra minoritária face
à dos seus ilustres antepassados como por não ter preparação para escolher o
melhor para o futuro dos cidadãos e da Universidade.
Teria analisado bem o assunto e considerado alternativas: Transferir
toda a Universidade para outro local da cidade estava fora de questão – seria
criar um campus, isto é, isolar a Universidade
da cidade, (dos cidadãos que a sustentam e a quem ela deveria servir) como
faziam os americanos cujo modo de ser detestava. Transferir algumas Faculdades
seria ferir de morte a Universidade, que implica unidade na diversidade.
De todas as alternativas, decidiu escolher a que considerou menos
má; se a Universidade deixava de estar na cidade pelo menos ficaria rodeada de
cidade a poente - não um campus mas ainda cidade universitária. Manter-se-ia
parte dos Salatinas, em especial os seus vizinhos do Colégio dos Grilos. Teria
sido a solução menos má mas o futuro veio piorá-la.
O seu amigo, correligionário e
conselheiro Bissaya Barreto tolerava qualquer projecto desde que lá se
mantivessem os HUC, a quinze minutos da sua casa, padrão da cidade humana, ideal
que viria a emergir no Sec XXI.
A nova cidade universitária “… só activa para o estudo na
doce e calma atmosfera coimbrã” não ficou marcada por este anátema (“palavra
grega que significando uma oferenda votiva, evoluiria para o sentido de
maldição”) que obviamente
não era sua intenção apenas traduzia bem o seu ideal de Universidade. Felizmente
tal não aconteceu, a Universidade fragmentou-se mas não se converteu num Mosteiro
laico.
Nota: Interpretações minhas.
Diário de Coimbra 21 ? - Nov 2025
Etiquetas: madraça, Universidade
O consumo e a vacina do endividamento
Existem quatro razões pelas quais uma economia pode crescer: o investimento público e das empresas, as
exportações, o consumo feito pelo próprio Estado e os gastos das famílias.
Num passado recente, Portugal percebeu que este último recurso já não era
solução por ter gerado níveis de endividamento público impossíveis de suportar
pelo Orçamento do Estado.
Já os gastos das famílias têm-se revelado como a trave mestra do crescimento económico, com o consumo a crescer mesmo mais do que a economia.
*Economia significa, em primeiro lugar, a ciência social que estuda a produção, distribuição e consumo de bens e serviços, e como as sociedades gerem recursos escassos para satisfazer necessidades humanas. Derivada do grego oikos (casa) e nomos regras/ administração), a palavra também se refere a um conjunto mais prático de significados, como a moderação nos gastos, a poupança, o bom uso de recursos e a gestão de bens.
Conclusão: Esta vacina contra o consumo é ineficaz.
Etiquetas: absurdo, consumo, economia
Etiquetas: tempo, trabalho, velhice
Descobrir e inventar
Descobrir é desvelar algo que já existia mas era desconhecido; inventar é criar algo que não existia. Descobrir é um acto humano, por vezes sobre-humano; inventar é de uma ordem semi-divina.
Deus terá criado tudo o que existe a partir do nada, crê-se (nem foi Lúcifer que criou o Inferno).
Ora há humanos que o emulam - quem inventou o zero (0)*. O zero é a representação concreta do nada, o que está antes do um, antes do primeiro, um absurdo mas sem o qual seria difícil representar a grande quantidade.
Tão ou mais absurdo foi a invenção do “marralhão” na acepção que lhe dávamos em Porto da Lage – depois do último – conceito de que não conheço outra utilidade que a de zombar dos preguiçosos.
* Terá sido inventado por um indiano; foi introduzido na cultura árabe (e daí na Europa), tal como o sistema decimal, por Al Quarismi, um persa. Daqui os vocábulos algarismo e algoritmo.Etiquetas: Deus, Inventar, marralhão, Zero
respigos
Angel Wagenstein (1922-2023), no seu O Pentateuco de Isaac relata a vida atribulada de Isaac Jacob Blumenfeld, um alfaiate judeu da Galícia que conheceu “cinco pátrias e três campos de concentração” e que, apesar de tudo, afirmava: “Se me perguntares como vou, responder-te-ei: muitíssimo bem porque podia sempre estar pior".
Etiquetas: optimismo, Pangloss
Uma redundância verdadeira e perigosa
O “tecnofeudalismo" das plataformas digitais
Um poder que não precisa de violência porque opera através do consentimento, fabricado, manipulado, mas formalmente voluntário.
Os utilizadores ... foram transformados: não só como consumidores, mas também como produtores gratuitos de dados e conteúdo.
Etiquetas: dados, Plataformas digitais
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